Quem é o teu próximo?
Ele perguntou a Jesus:
"E quem é o meu próximo?"
Lc 10, 29
Uma vez desci de Jerusalém para Jericó. Por estrada, claro, e num belíssimo autocarro com todas as comodidades, a contrastar com os montes agrestes e secos da paisagem. A meio do caminho o guia apontou umas ruínas e disse sorrindo: "A estalagem do bom samaritano!" Não vimos ninguém caído à beira da estrada, mas já a ausência de paz por aquelas terras nos fazia pensar que os caídos estariam noutros lugares, e que os bons samaritanos não gostam de dar nas vistas. Dias depois, uma bomba num mercado de Jerusalém, mostraria como os salteadores de vidas se multiplicam e não há falta de trabalho para quem se encha de compaixão!
Quando nos gastamos a procurar "quem é o meu próximo", quase sempre estamos a justificar nada fazer pelo sofrimento visível. O segredo está no "ver" e não ignorar. Fazer da dor do outro a minha própria dor, acreditar que o mais pequeno gesto ganha uma dimensão de milagre, que nenhuma viagem é mais urgente do que parar para acudir. Podiam ser "íntimos" de Deus e do culto o sacerdote e o funcionário do templo que passaram, mas eram pobres de humanidade. Desviaram o olhar e nem consta que tenham avisado o 112. Jesus não é meigo a denunciar todo o endurecimento de coração. Dizia um cântico, nascido na equipa pastoral da Merceana: " Próximo é quem se aproxima dos outros / e os trata como irmãos".
Entre as grandes estruturas de caridade organizada (importantes em algumas realidades complexas como as de hoje) e ser "bom samaritano" ao sabor do vento há imensos caminhos a inventar que importa ter em conta. Os dois extremos anteriores, no fundo, ficam "à espera" dos que lhes vêm bater à porta, e organizam "listas de espera" ou respondem no imediato sem precaver o futuro. É preciso criar dinamismos próximos de intervenção, unindo os agentes de desenvolvimento local, comprometendo-nos num esforço que conduza a práticas mais livres da "subsidiodependência" e do "tranquilizante" voluntarismo. A tentação das grandes estruturas pode ser a do poder, e a do voluntarismo, a de "brincar à caridadezinha"!
O samaritano não fez tudo sozinho. A estalagem foi também casa de cura e salvação, e o homem caído e abandonado reencontrou a dignidade. Deus nunca é nomeado, mas os padres da Igreja viram no samaritano Jesus e na estalagem a Igreja. O que podemos aprender com isto?
Padre Vítor Gonçalves
"E quem é o meu próximo?"
Lc 10, 29
Uma vez desci de Jerusalém para Jericó. Por estrada, claro, e num belíssimo autocarro com todas as comodidades, a contrastar com os montes agrestes e secos da paisagem. A meio do caminho o guia apontou umas ruínas e disse sorrindo: "A estalagem do bom samaritano!" Não vimos ninguém caído à beira da estrada, mas já a ausência de paz por aquelas terras nos fazia pensar que os caídos estariam noutros lugares, e que os bons samaritanos não gostam de dar nas vistas. Dias depois, uma bomba num mercado de Jerusalém, mostraria como os salteadores de vidas se multiplicam e não há falta de trabalho para quem se encha de compaixão!
Quando nos gastamos a procurar "quem é o meu próximo", quase sempre estamos a justificar nada fazer pelo sofrimento visível. O segredo está no "ver" e não ignorar. Fazer da dor do outro a minha própria dor, acreditar que o mais pequeno gesto ganha uma dimensão de milagre, que nenhuma viagem é mais urgente do que parar para acudir. Podiam ser "íntimos" de Deus e do culto o sacerdote e o funcionário do templo que passaram, mas eram pobres de humanidade. Desviaram o olhar e nem consta que tenham avisado o 112. Jesus não é meigo a denunciar todo o endurecimento de coração. Dizia um cântico, nascido na equipa pastoral da Merceana: " Próximo é quem se aproxima dos outros / e os trata como irmãos".
Entre as grandes estruturas de caridade organizada (importantes em algumas realidades complexas como as de hoje) e ser "bom samaritano" ao sabor do vento há imensos caminhos a inventar que importa ter em conta. Os dois extremos anteriores, no fundo, ficam "à espera" dos que lhes vêm bater à porta, e organizam "listas de espera" ou respondem no imediato sem precaver o futuro. É preciso criar dinamismos próximos de intervenção, unindo os agentes de desenvolvimento local, comprometendo-nos num esforço que conduza a práticas mais livres da "subsidiodependência" e do "tranquilizante" voluntarismo. A tentação das grandes estruturas pode ser a do poder, e a do voluntarismo, a de "brincar à caridadezinha"!
O samaritano não fez tudo sozinho. A estalagem foi também casa de cura e salvação, e o homem caído e abandonado reencontrou a dignidade. Deus nunca é nomeado, mas os padres da Igreja viram no samaritano Jesus e na estalagem a Igreja. O que podemos aprender com isto?
Padre Vítor Gonçalves
1 Comments:
«Comentário ao Evangelho do dia feito por :
São Severo de Antioquia (c. 465-538), bispo
Homilia 89
Cristo sara a humanidade ferida
Passou por ali um samaritano. […] É propositadamente que Cristo dá a Si próprio o nome de Samaritano, Ele sobre Quem tinham dito, para o insultar: “Tu és um samaritano e estás possesso do demónio” (Jo 8, 4). […] O viajante samaritano que era Cristo – porque Ele era de facto um viajante – viu a humanidade caída por terra. E não passou ao largo, porque a razão pela qual empreendera essa viagem era “visitar-nos” (Lc 1, 68, 78), nós, por causa de quem Ele desceu à terra e entre quem habitou. Porque Ele “fez a sua aparição na terra, onde permaneceu entre os homens” (Bar 3, 38). […]
Sobre as nossas chagas derramou vinho, o vinho da Palavra, e, como a gravidade dos ferimentos não suportava toda a sua força, misturou-o com o óleo da Sua ternura e do “Seu amor pelos homens” (Tit 3, 4). Em seguida, conduziu o homem à estalagem. Chama estalagem à Igreja, que se tornou o lugar de habitação e de refúgio de todos os povos. Uma vez chegados à estalagem, o bom samaritano teve para com aquele que tinha salvado uma solicitude ainda maior; o próprio Cristo ficou na Igreja, concedendo-lhe todas as graças. […] E, ao partir – isto é, ao subir ao céu –, deixou ao dono da estalagem, símbolo dos apóstolos, dos pastores e dos doutores que Lhe sucederam, duas moedas de prata, para que ele cuidasse do doente. Estas duas moedas são os dois Testamentos, o Antigo e o Novo, o da Lei e dos profetas, e aquele que nos foi dado pelos Evangelhos e pelos escritos dos apóstolos. Ambos provêm do mesmo Deus, exibindo ambos a imagem deste único Deus das alturas, tal como as moedas de prata exibem a imagem do rei, e imprimem nos nossos corações a mesma imagem real por meio das santas palavras, dado que foi um só e mesmo Espírito que as pronunciou. Trata-se de duas moedas de um único rei, deixadas ao mesmo tempo e a título igual por Cristo ao dono da estalagem.
No último dia, os pastores das igrejas santas dirão ao Senhor que há-de vir: “Senhor, confiaste-me dois talentos, aqui estão outros dois que ganhei”, por via dos quais fiz aumentar o rebanho. E o Senhor há-de responder-lhes: “Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor” (Mt 25, 22-23).»
[partilhado por "Evangelho Quotidiano"]
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